A anatomia vegetal é uma área do conhecimento que
estuda a estrutura das diferentes células vegetais, o arranjo destas nos
diversos tecidos e a organização dos tecidos nos órgãos das plantas (raiz,
caule, folha, flor, fruto e semente) Desta forma, é essencial neste estudo a
utilização de microscópio, uma vez que a maioria das estruturas apresenta
tamanho reduzido. O avanço das técnicas e dos equipamentos de observação e a
análise dos materiais têm auxiliado na resolução de problemas biológicos, tanto
em nível microscópico (com a utilização de microscópio de luz) quanto
submicroscópico (com a utilização de microscópios eletrônicos).
1.
Microscopia de luz
A observação ao microscópio de luz exige que o
material seja o mais transparente possível, para ser atravessado pela luz, o
que implica em procedimentos de preparo do material para a produção de uma
lâmina. Os materiais podem ser frescos ou fixados, dependendo do interesse do
pesquisador.
O material fresco presta-se para observações rápidas
ou que não dependem de conservação para a observação posterior.
Para se obterem camadas delgadas das amostras, o
material pode ser seccionado à mão livre ou em micrótomo de mesa com auxílio de
uma lâmina de aço descartável. Os cortes são montados em lâminas, utilizando-se
água ou glicerina como meio de montagem, e cobertos com lamínulas; estas
preparações são denominadas temporárias, pois após a observação, são descartadas.
A fixação é feita quando se pretende conservar o
material por um maior tempo. Um bom fixador é aquele que conserva o máximo
possível das características estruturais da célula no seu estado in vivo e altera o mínimo a sua
constituição química. Existem várias misturas fixadoras, as quais são
escolhidas conforme o objetivo do estudo, seguindo diferentes protocolos. Um
dos fixadores mais utilizados é o FFA (formol, ácido acético e álcool, 5:5:90).
Os materiais fixados podem ser cortados à mão livre, em micrótomo de mesa,
micrótomo rotativo; neste caso, devem ser incluídos em parafina ou em resinas
glicolmetacrilato.
A inclusão em parafina é feita com o intuito de se
obterem fatias mais finas do tecido, o que garante melhor qualidade de imagem
ao microscópio. Como a parafina não é miscível em água, nesse processamento
exige que se proceda à desidratação da amostra. Pode-se utilizar para isso uma
série etílica ou butílica crescente. No
caso da série etílica, é necessário utilizar o xilol como solvente orgânico, o
qual é considerado uma droga muito tóxica e altamente cancerígena. Recentemente
foram desenvolvidas resinas sintéticas (metacrilato) para inclusão de materiais.
Essas são mais duras que a parafina, permitindo a obtenção de cortes mais
finos; e menos tóxicas, porque dispensam o uso do xilol, por serem miscíveis em
água.
Os cortes obtidos podem ser submetidos às diferentes
técnicas de coloração, conforme o interesse do pesquisador. Como as células são
constituídas basicamente pelos mesmos elementos químicos (hidrogênio, oxigênio,
nitrogênio, carbono e fósforo), as estruturas celulares interagem de forma
parecida com a luz, costumando-se proceder à coloração para aumentar o
contraste entre as estruturas celulares. Existem diversos protocolos de
procedimentos de coloração, entretanto o mais comum é a utilização de azul de Astra
safranina ou verde rápido e safranina.
Para preparar uma lâmina permanente deve-se proceder
à desidratação em série etílica, pois o meio de montagem que fica entre a
lâmina e a lamínula é uma resina sintética (como o balsamo do Canadá, entelan,
permout) que não é miscível em água.
2.
Análise e interpretação do laminário
É difícil interpretar estruturas tridimensionais
pelo estudo de cortes delgados que podem fornecer uma falsa impressão da
arquitetura do órgão (Figura 01). Por exemplo, uma simples fatia de um objeto como o ovo
poderá dar a determinada pessoa que nunca tenha visto este objeto interpretação
errada de sua estrutura. Assim quando se estuda um órgão, é indispensável a
utilização de cortes realizados em diferentes partes e em diferentes planos, ou
então cortes seriados.
Quando a estrutura ou órgão
apresenta formato laminar, achatado, os cortes podem ser:
Transversal:
perpendicular ao maior eixo a estrutura ou órgão.
Longitudinal:
é paralelo ao maior eixo da estrutura ou órgão.
Paradermico:
é paralelo à superfície plana e ao maior eixo da estrutura ou órgão.
Em órgãos cilíndricos podem-se obter os
seguintes tipos de cortes (Figura 03):
Transversal:
perpendicular ao maior eixo a estrutura ou órgão.
Longitudinal Tangencial:
paralelo ao maior eixo e não passa pelo centro.
Longitudinal Radial:
paralelo ao maior eixo passando pelo centro.
3.
Preparação microscópica
Para se confeccionar uma lâmina temporária é aconselhável
seguir as orientações:
1. Colocar com um conta-gotas uma gota de água ou
reagente sobre a lâmina de vidro;
2. Transferir para a lâmina, com auxílio de um
pincel ou estilete, o corte a ser examinado;
3. Cobrir com lamínula: encoste um dos lados da
lamínula no bordo da gota de líquido de inclusão e espere que este se espalhe
ao longo da lamínula e então solte lentamente a lamínula para evitar a formação
de bolhas;
4. Retirar o excesso de água ou reagente com papel
filtro;
Uma boa lâmina é aquela que permite uma boa
observação e deve apresentar as seguintes características:
·
Não ter bolhas de ar, pois se apresentam
escuras ao microscópico;
·
Não conter excesso de material, o que
dificulta a focalização;
·
A lamínula não deve flutuar, pois o
excesso de líquidos serão retirados com papel filtro;
·
Nunca deve haver líquidos sob a mesa ou
platina, pois dificulta o deslocamento da lâmina e danifica o microscópio.
Micrótomos para parafina e resina
Imagens de lâminas (com cortes e finalizadas)
4. Preparo de materiais para a
microscopia eletrônica.
Os microscópios eletrônicos (de transmissão e de
varredura) foram equipamentos que permitiram grandes avanços nos estudos
biológicos, pois com eles foi possível visualizar e detalhar organelas e constituintes
celulares, como membrana plasmática, núcleo, nucléolo, cromossomos,
cloroplastos, mitocôndrias, plasmodesmos, retículo endoplasmático, ribossomos,
microtúbulos, dentre outros. Entretanto, esses equipamentos impõem algumas
limitações, principalmente pela necessidade de alto vácuo na coluna e pelo
baixo poder de penetração dos feixes de elétrons. Assim, o exame de células ao
microscópio eletrônico de transmissão só pode ser feito em fatias ultrafinas. Já o microscópio eletrônico de varredura
permite o exame de superfícies. Em ambos os casos, as amostras devem ser
fixadas em fixadores com alta capacidade de penetração e terem boa habilidade
de coagular proteínas. Todas as amostras devem ser desidratadas não existindo a
possibilidade de estudar células vivas.
Referências:
AZEVEDO, A.A.; GOMIDE, C.J.; SILVA, E.A.M. Anatomia das espermatófitas: material de aulas práticas. 2º edição. Viçosa: UFV, 2003.
AZEVEDO, A.A.; GOMIDE, C.J.; SILVA, E.A.M. Anatomia das espermatófitas: material de aulas práticas. 2º edição. Viçosa: UFV, 2003.
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