Para aqueles que são amantes da natureza...

"Este cerrado é um pouco como o nosso povo brasileiro. Frágil e forte. As árvores tortas, às vezes raquíticas, guardam fortalezas desconhecidas. Suas raízes vão procurar nas profundezas do solo a sua sobrevivência, resistindo ao fogo, à seca e ao próprio homem. E ainda, como nosso povo, encontra forças para seguir em frente apesar de tudo e até por causa de tudo"

Newton de Castro


sábado, 15 de setembro de 2012

Planta amazônica lança potássio na atmosfera para produzir chuva


RAFAEL GARCIA
EM WASHINGTON

Um estudo internacional que coletou amostras de ar em uma torre de 80 metros na Amazônia e levou-as a aceleradores de partícula nos EUA e na Alemanha descobriu que as plantas da floresta exercem ainda mais controle sobre o clima local do que se imaginava.
A vegetação amazônica ajuda a criar chuva lançando partículas minúsculas de potássio no ar.
Em um estudo publicado hoje na revista "Science" cientistas que realizaram o experimento afirmam que 90% das partículas de aerossóis --líquidos e sólidos em suspensão no ar-- responsáveis por agregar água atmosférica em gotículas de chuva contém essas partículas.
Alex Almeida-set.2007/Folhapress
Vista aérea da floresta amazônica em 2007
Vista aérea da floresta amazônica em 2007
Os cientistas sabiam da existência de sais de potássio em suspensão, mas não sabia que o elemento saia diretamente das plantas para ser levado aos céus da Amazônia. Talvez o potássio estivesse contido em partículas orgânicas maiores, e só apareceria depois de se degradar.
"Nós nunca imaginávamos que isso também acontecia em partículas com apenas 20 nanômetros", disse à Folha Paulo Artaxo, cientista atmosférico da USP que participou do trabalho. (Um nanômetro equivale a um bilionésimo de metro.)
"Antigamente não existia técnica analítica capaz de medir concetrações de elementos traços em partículas tão pequenas, mas agora existe."
Essa parte da pesquisa foi feita pelo Instituto Max Planck de Química da Alemanha. O trabalho lançou mão de uma técnica especial de microscopia que gerou feixes especiais de luz gerados em dois grandes aceleradores de partículas, um em Berlin e um na Califórnia.
Segundo o climatólogo Meinrat Andreae, do Max Planck, a descoberta revelou mais um mecanismo usado pela floresta para tentar reter água em sua própria região. Segundo ele, pode ser que a seleção natural ao longo dos milênios tenha favorecido plantas com essa capacidade.
"Nós nos perguntamos se isso é um processo que teve controle evolutivo", diz Andreae.
"Queremos saber se as plantas adquiriram essa capacidade de uma maneira darwinista clássica ou se isso é apenas um subproduto gerado por outros tipos de pressão evolutiva."
TORRES NA FLORESTA
As amostras de ar usadas pelos cientistas no trabalho foram coletadas em uma das torres do maior complexo de pesquisa atmosférica da Amazônia, que está sendo construido em Presidente Figueiredo, a 133 km de Manaus.
O Atto (Observatório Amazônico de Torre Alta, na sigla em inglês) já possui quatro torres de 80 metros. Elas são as peças de sustentação de uma torre ainda maior, com 320 metros, que deve começar a ser construída no mês que vem.
Mesmo antes de estar completa, porém, a estação de pesquisa construída pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) já começou a produzir dados, e o estudo na "Science" usou alguns deles.
O atraso no projeto da torre principal se deveu à demora dos pesquisadores em conseguir uma licença para abrir uma estrada até o local de pesquisa. Como a fase final do projeto requer maior quantidade de material, será preciso levar tudo até o rio Uatumã, na bacia do rio Negro, e fazer o restante do transporte com caminhões.
O trabalho requer o trânsito por uma terra indígena e uma área de preservação, o que acabou gerando mais burocracia do que o previsto para a aprovação do projeto. Não será preciso desmatar nenhuma área para erguer as torres, porém, pois estas ficam em meio às árvores já existentes.
"Em teoria, a torre principal vai estar pronta na metade do ano que vem", diz Artaxo, que visitou o local há duas semanas e viu o trajeto de Fitzcarraldo que os técnicos e cientistas fazem para levar o material até lá. "Não é mole. São dez horas de barco desde Manaus, depois mais 15 km nessa estrada que estão construindo agora."

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