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"Este cerrado é um pouco como o nosso povo brasileiro. Frágil e forte. As árvores tortas, às vezes raquíticas, guardam fortalezas desconhecidas. Suas raízes vão procurar nas profundezas do solo a sua sobrevivência, resistindo ao fogo, à seca e ao próprio homem. E ainda, como nosso povo, encontra forças para seguir em frente apesar de tudo e até por causa de tudo"

Newton de Castro


domingo, 3 de abril de 2016

Caracterização morfoanatômica de Portulaca oleracea L.1

Emanuel Barcelos Carneiro2, Kátya B. A. Smiljanic3
1Trabalho financiado com recursos da UNIFIMES
2Acadêmico do curso de Agronomia do Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES), bolsista do programa de iniciação científica. Rua 22, s/nº - Setor Aeroporto – Cx. P. 104 – Mineiros/GO – CEP 75830-000
3Professora assistente do Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES), Rua 22, s/nº - Setor Aeroporto – Cx. P. 104 – Mineiros/GO – CEP 75830-000. katia@fimes.edu.br.

RESUMO: Este trabalho teve por objetivo descrever a morfoanatomia de Portulaca oleracea como contribuição para a taxonomia e sistemática da família Portulacaceae. O material botânico foi coletado no banco de multiplicação de hortaliças não-convencionais na Fazenda Experimental Prof. Luiz Eduardo de Oliveira Sales–FELEOS, Centro Universitário de Mineiros – GO, fixado em F.A.A. (50%),estocado em etanol (70%). Os cortes transversais e paradérmicos foram feitos com lâmina de aço, imersos em uma solução de Hipoclorito de Sódio, lavados em álcool e água destilada e coradoscom Azul de Astra (1%) e Safranina (1%), e em seguida comporam lâminas semi-permanentes.P. oleracea apresentou caule prostrado, ramificado, folhas simples, alternadas, glabras, espatuladas com margem inteira. Inflorescência com 2-6 flores de coloração amarela que abrem apenas em pleno sol. A epiderme é unisseriada, estômatos paracíticos, folha anfiestomáticas. Mesofilo com mucilagem, feixes vasculares são colaterais e presente anatomia Kranz. Epiderme do caule contendo antocianina e a raiz é poliarca. Em todos os órgãos foram visualizados cristais do tipo drusas.
PALAVRAS-CHAVE: Anatomia vegetal. Botânica ecológica. Botânica estrutural. Portulacaceae.

INTRODUÇÃO
P. oleracea é uma angiosperma da classe das Eudicotiledôneas, ordem Caryophyllales, família Portulacaceae apresenta cerca de 20 gêneros e 500 espécies (JUDD, 2007). São plantas herbáceas com caule geralmente prostrado, com ramificação dicotômica, folhas subsésseis, espatulada, nervura central evidente; base atenuada; ápice arredondado a obtuso; margem inteira; glabras; Inflorescência com 2-6 flores. Flores sésseis, botões florais achatados lateralmente; pétalas amarelas, brancas ou rosa; pixídio séssil, com cerca de 20-30 sementes negras ou opacas por fruto(COELHO;GIULIETTI, 2010). É muito prolífica, podendo produzir 10.000 sementes por plantaque se mantém dormentes no solo por mais de 19 anos, germinando o ano todo e emergindo de uma profundidade máxima de 5 cm. Quando em presença de pouca luz apresenta crescimento ereto em vez deprostrado (MAPA, 2010). Conhecida como beldroega, é uma planta cosmopolita, apresenta potencial medicinal e considerada como “daninha” comum em todo Brasil; infesta solos cultivados, pomares, jardins, hortas, viveiros e cafezais; prefere solos ricos em matéria orgânica, onde é indicadora de bom padrão de fertilidade do solo (MAPA, 2010). É considerada uma hortaliça não convencional, rica em vitaminas e fibras, é consumida em algumas regiões do Brasil na forma de salada e de refogado. Este trabalho teve por objetivo descrever a morfoanatomia da espécie P. oleracea como contribuição para a taxonomia e sistemática da família Portulacaceae.

MATERIAL E MÉTODOS

O material botânico foi coletado no banco de multiplicação de hortaliças não-convencionais na Fazenda Experimental Prof. Luiz Eduardo de Oliveira Sales–FELEOS, Centro Universitário de Mineiros - GO. Para caracterização anatômica, folhas totalmente expandidas foram colhidas aleatoriamente e em seguida, fixadas em F.A.A. (50%) e posteriormente estocadas em etanol (70%) (JOHANSEN, 1940). A folha foi cortada transversalmente por meio de uma lâmina de açona porção mediana, borda da lâmina foliar e pecíolo para análise estrutural dos tecidos e cortes paradérmicos foram feitos para visualização dos estômatos, tricomas e outras estruturas epidérmicas. Cada corte foi imerso em uma solução de Hipoclorito de Sódio comercial até a sua total descoloração, sendo imediatamente lavados em álcool e água destilada. Por fim, as secções passaram poruma sequência de corantes, Azul de Astra (1%) e Safranina (1%), (JOHANSEN, 1940) e a partir de então, vieram a compor lâminas semi permanentes. As observações e documentações fotográficas foram feitas em um microscópio fotônicodo Laboratório de Microscopia do Centro Universitário de Mineiros - UNIFIMES. Os resultados encontrados, meramente descritivos, foram discutidos e comparados à estudos similares feitos com plantas afins.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

P. oleracea é uma plantas medicinal listadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das mais utilizadas é conhecida popularmente no Brasil como beldroega, salada-de-negro, caaponga, porcelana, brepo-de-porco, verdolaga, beldroega-pequena, beldroega-vermelha, beldroega-da-horta e onze-horas (LORENZI; MATOS, 2008). A parte aérea é consumida na forma de salada e de refogado. É considerada sudorífica, anti-inflamatório, diurética, vermífuga, antipirética e antibacteriana, sendo empregada internamente contra disenteria, enterite aguda, mastite e hemorróidas. As folhas são indicadas também contra cistite, hemoptise, cólicas renais, queimaduras e úlceras. As sementes são consideradas emenagoga, diurética e anti-helmíntica. A infusão de suas folhas e ramos é tônica e depurativa do sangue, enquanto que em uso externo aplicadas sobre feridas favorecem a cicatrização. Além disso, a planta é fonte rica de ácido graxo ômega-3, substância importante na prevenção de infartos e no fortalecimento do sistema imunológico (LORENZI; MATOS, 2008).Em relação a atividade antibacteriana, o uso da planta pode representar uma alternativa aos antissépticos e desinfetantes sintéticos convencionais. Mangoba (2015) demonstrou em estudos preliminares que extratos etanólicos de beldroega à 50%foram eficazes como inibidores de atividade antibacteriana correlacionadas a polifenóis totais e antocianinas. A planta como alimento apresenta moderado potencial antioxidante pela presença de polifenóis totais e vários minerais destacando o ferro e o potássio (MANGOBA, 2015).Os exemplares coletados para estudo no banco de multiplicação de hortaliças não-convencionais na Fazenda Experimental Prof. Luiz Eduardo de Oliveira Sales - FELEOS, Centro Universitário de Mineiros – GO, apresentaram caule prostrado, com ramificação dicotômica que crescem para todos os lados atingindo até 40 cm, coloração arroxeada no lado iluminado, carnosos, cilíndricos e glabros. As folhas são simples, alternadas, espatulada, nervura central evidente; base atenuada; ápice arredondado a obtuso; margem inteira; glabras de coloração verde brilhante. Inflorescência com 2-6 flores de coloração amarela que abrem apenas em pleno sol. As características encontradas são similares as descritas por Coelho e Giulietti (2010). Quanto a descrição anatômica a beldroega apresentou epiderme unisseriada com presença de estômatos paracíticos (estômato acompanhado em ambos os lados por uma ou mais células subsidiárias paralelas ao eixo longitudinal) nas faces adaxial e abaxial (folha anfiestomática). As células epidêmicas mostraram paredes anticlinais sinuosas nas duas faces. Presença de mucilagem em tecido parenquimático que forma o mesofilo. Os feixes vasculares são colaterais com presença de duas bainhas circundante, uma parenquimática e outra disposta radialmente (Anatomia Kranz), rica em cloroplastos e cristais do tipo drusas. A presença de uma segunda bainha ao redor do feixe vascular disposta radialmente na folha indica que a planta faz fotossíntese via C4, onde o carbono do CO2 atmosférico é fixado em uma substância com quatro carbonos. Não foi observada a presença de fibras nos feixes vasculares da lâmina foliar. No caule foram vistas células epidérmicas unisseriadas contendo antocianina unilateralmente o que corresponde com o lado iluminado. De acordo com Close e Beadle (2003), as antocianinas estão amplamente distribuídas nas células do mesofilo de muitas espécies de vegetais e absorvem comprimentos de onda de luz na faixa de 400 a 600 nm. Isto sugere que as antocianinas agem como filtros da luz visível (fotoproteção) quando folhas são expostas a condições de alta intensidade luminosa (Close; Beadle, 2003).Presença de 1-2 camadas de colênquima angular abaixo da epiderme e parênquima cortical com muitos espaços intercelulares. A raiz é poliarca e delimitada por periderme pouco desenvolvida. Em todos os órgãos foram visualizados cristais do tipo drusas. Os cristais de oxalato de cálcio apresentam-se frequentementena forma de monocristais, drusas, ráfides e areias cristalinas (APPEZZATO-DA-GLÓRIA; CARMELLO-GUERREIRO, 2006) e a sua presença pode estar relacionada a uma adaptação dos vegetais contra herbivoria, balanço iônico e ao desenvolvimento do tubo polínico, servindo como fonte para a formação desta estrutura, visto que o crescimento deste requer gradientes intracelulares de cálcio (MESSERLI et al. 2000; HOLDAWAY-CLARKE et al., 2003). 

CONCLUSÃO

P. oleracea apresentou caule prostrado, ramificado, folhas simples, alternadas, glabras, espatuladas com margem inteira. Inflorescência com 2-6 flores de coloração amarela que abrem apenas em pleno sol. A epiderme é unisseriada, estômatos paracíticos, folha anfiestomáticas. Mesofilo com mucilagem, feixes vasculares são colaterais e presente anatomia Kranz. Epiderme do caule contendo antocianina e a raiz é poliarca. Em todos os órgãos foram visualizados cristais do tipo drusas.



Figura 1. Corte paradérmico da lâmina foliar mostrando estômatos paracíticos (face abaxial); Figura 2. Estômato em corte transversal com grande cavidade subestomática; Figura 3. Cristal de sais de cálcio em formato de drusa; Figura 4. Corte transversal da lâmina foliar mostrando feixe vascular envolto por bainha amilífera e perivascular (Anatomia kranz); Figura 5. Corte transversal do caule expondo elementos de vasos (xilema); Figura 6. Corte transversal em raiz evidenciando os elementos de vasos; Figura 7. P. oleracea.


Abreviações 
Es - estômatos; Cse – cavidade subestomática; Pa – parênquima; Fv – feixe vascular; Dr – drusas; Ba – bainha amilífera; Bp – bainha perivascular; Ev – elemento de vaso.



REFERÊNCIAS


APPEZZATO-DA-GLÓRIA, B.; CARMELLO-GUERREIRO, S. M. Anatomia Vegetal. Viçosa: UFV, 2006. 438.
COELHO, A. A. de O. P.; GIULIETTI, A. M. O gênero Portulaca L. (Portulacaceae) no Brasil. Acta Bot. Bras. [online]. 2010, vol.24, n.3, pp. 655-670.
CLOSE, D.C.; BEADLE, C.L.The Ecophysiology of Foliar Anthocyanin. The Botanical Review, 69: 149–161, 2003.
HOLDAWAY-CLARKE, T.L.; WEDDLE, N.M.; KIM, S.; ROBIA, A.; PARRIS, C.; KUNKEL, J.G. & HEPLER, P.K. Effect of extracellular calcium, pH and borate on growth oscillations in Liliumformosanum pollen tubes. Journal of Experimental Botany, 54: 65-72, 2003.
JOHANSEN, D. A.  Plant microtechnique. New York: McGraw-Hill BookCo.Inc., 1940. 523p.
JUDD, W.S., CAMPBELL, C.S., KELLOGG, E.A., STEVENS, P.F.; DONOGHUE, M.J. . Plant Systematics: A phylogenetic approach.3rd Edition.Sinauer Associates, Sunderland, Massachusetts, USA. 2007.
LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2 ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2008. 576p.
MANGOBA, P. M.A. Prospecção de características fitoquímicas, antibacterianas e físico-químicas de Portulacaoleracea L. (Beldroega). Dissertação de mestrado. UFRGS, Porto Alegre, 2015.
MAPA.Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.Manual de hortaliças não-convencionais / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. – Brasília: Mapa/ACS, 2010.92 p.
MESSERLI, M.A; CRETON, R..; JAFFE, L.F.; ROBINSON, K.R. Periodic Increases in elongation rate precede increase in cytosolic Ca2+ during pollen tube growth . Developmental Biology, 222: 84-98, 2000. 


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