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"Este cerrado é um pouco como o nosso povo brasileiro. Frágil e forte. As árvores tortas, às vezes raquíticas, guardam fortalezas desconhecidas. Suas raízes vão procurar nas profundezas do solo a sua sobrevivência, resistindo ao fogo, à seca e ao próprio homem. E ainda, como nosso povo, encontra forças para seguir em frente apesar de tudo e até por causa de tudo"

Newton de Castro


sábado, 4 de abril de 2015

Brachiaria e/ou Urochloa: dando nomes às plantas


“Normas para classificar”, serve para organizar os organismos vivos e com isso facilitar o estudo e identificar relações entre os indivíduos

     
Cacilda Borges do Valle
09/08/2010


A taxonomia, palavra de origem grega que significa “normas para classificar”, serve para organizar os organismos vivos e com isso facilitar o estudo e identificar relações entre os indivíduos. Assim, cada planta ou inseto, fungo ou animal ganha um nome e “sobrenome”, por exemplo: Brachiaria decumbens. A classificação segue uma hierarquia e a mais alta é o Reino (Animal, Vegetal ou Mineral), seguem-se os Filos, Classes, Ordens, Família, Gênero e Espécie. Dessa forma os capins pertencem à família Poaceae e a gêneros como Panicum, Brachiaria, Pennisetum. O “sobrenome’ é a espécie, como por exemplo, o colonião é Panicum maximum, e o brizantão é Brachiaria brizantha.
Como então são feitas as classificações? Os taxonomistas – assim se chamam os especialistas em organizar os indivíduos em espécies, gêneros, etc. – estudam as características morfológicas e as comparam com as já descritas para indivíduos semelhantes, ou então, em se tratando de planta ou animal nunca descrito, iniciam uma nova descrição. A grande maioria dos organismos já foi estudada e descrita mas novas formas podem aparecer e revisões se mostram necessárias para adequá-las ou agrupá-las de outra maneira.
Com o gênero Brachiaria não foi diferente. Esses capins que com certeza cobrem as maiores áreas de pastagens tropicais no mundo já fizeram parte do gênero Panicum – aquele do capim colonião - quando primeiramente descritas por Trinius em 1834. Depois, em 1853, outro especialista, Grisebach, elevou Brachiaria à categoria de gênero contendo hoje cerca de 100 espécies distribuídas pelos trópicos, mas especialmente na África. A característica principal que distingue Brachiaria de Panicum são suas espiguetas de forma ovalada, arranjadas em rácemos unilaterais, com a gluma inferior adjacente à raquis (Figura 1). Só que nem sempre os taxonomistas concordam e às vezes, essas características são consistentes por todas as espécies do gênero e por isso aparecem os questionamentos. Recentemente países como a Austrália e Estados Unidos reclassificaram quase todas as espécies de Brachiaria para o gênero Urochloa (Figura 2) seguindo trabalhos de revisão por autor australiano (Webster), autores argentinos (Morone & Zuloaga) e depois autora colombiana e autor americano (Gonzalez & Morton). Porém as evidências apresentadas nos trabalhos acima ainda conservam controvérsias e não explicam contundentemente as diferenças visíveis, por exemplo, entre Panicum maximum e Brachiaria decumbens, colocando-os sob o mesmo gênero Urochloa. Além disso, os trabalhos mais recentes sugerem maiores estudos, inclusive usando vários marcadores moleculares, para melhor entender as relações entre essas espécies e gêneros. Por essas e por outras, no Brasil ainda se conserva a denominação Brachiaria, até que novos estudos sejam conduzidos e encontre-se justificativa inquestionável para proceder a mudanças. Existe todo um arcabouço legal no país como a Lei de Sementes e a Lei de Proteção de Cultivares feitas para Brachiaria e que em caso de mudança necessitaria serem revistas, por perigo de não mais se poder registrar campos de produção de sementes ou cultivares protegidas junto ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. E como ficariam as cultivares já protegidas, ou o comércio de sementes e mesmo os produtores já tão acostumados com a braquiária???
São considerações relevantes a serem observadas e qualquer atitude deverá ser ponderada com muito bom senso e embasada em robusta informação científica. Até então, nos parece razoável que usemos a estratégia de “sinonímia” sempre que publicarmos trabalhos com espécie do complexo Brachiaria-Urochloa para que toda a comunidade científica tenha acesso irrestrito a toda a informação gerada. Para tanto basta escrever Brachiaria (Syn. Urochloa) ou vice versa. Gostaria muito de ouvir a opinião dos ilustres leitores pois uma discussão na comunidade científica deverá ocorrer em breve. Basta enviar um e-mail paracacilda@cnpgc.embrapa.br e sua contribuição será muito bem vinda.



Florescências de Brachiaria ruziziensis (esquerda), B. brizantha (meio) e B. decumbens (direita) ilustrando rácemos (ou ramos) com espiguetas de um só lado: com 7, 4 e dois rácemos da esquerda para direita. Detalhe de B. humidicola cv. BRS Tupi mostrando as espiguetas com longos pelos (tricomas) e com a gluma inferior (1) adjacente a ráquis e gluma 2 virada para fora.



Urochloa mosanbicensis (capim corrente) conforme ilustração no livro “Guide to grasses of South Africa” por Frits van Oudtshoorn, Briza Publikasies CE, Pretoria, 301p. 1992.



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