Para aqueles que são amantes da natureza...

"Este cerrado é um pouco como o nosso povo brasileiro. Frágil e forte. As árvores tortas, às vezes raquíticas, guardam fortalezas desconhecidas. Suas raízes vão procurar nas profundezas do solo a sua sobrevivência, resistindo ao fogo, à seca e ao próprio homem. E ainda, como nosso povo, encontra forças para seguir em frente apesar de tudo e até por causa de tudo"

Newton de Castro


domingo, 25 de dezembro de 2011

O novo código florestal

 O código florestal foi criado por Getúlio Vargas através do Decreto Federal 23793/1934 junto com os códigos de Água, Minas, Capa e Pesca, todos com o propósito de disciplinar e ordenar o uso racional dos recursos naturais. Na época, o presidente não tinha noção de quanto o código florestal viria a contribuir com a conservação, preservação das floresta e outros ecossistemas naturais, garantindo água, a regulação do ciclo das chuvas e dos recursos hídricos, a proteção da biodiversidade, a polinização, o controle de praga, o controle do assoriamento dos rios e o equilíbrio  do clima- que sustentam a vida e a economia de todo o país. É o código florestal que regulamenta as áreas que devem ser de preservação permanente (APPs) e reserva legal.
 APPs significa área de preservação permanente que são as margens de rios, cursos d'agua, lagos, lagoas e reservatórios, topos de morros e encostas com declividade elevada, cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna (corredores de migração) e flora e de proteger o solo. São consideradas áreas sensíveis que correm risco de erosões, enchentes e deslizamentos. A retirada da vegetação nativa nessas áreas só pode ser autorizada em casos de obras de utilidade pública, de interesse social ou para atividades eventuais de baixo impacto ambiental.
Já a reserva legal é uma área na propriedade rural que deve ser mantida com a cobertura vegetal original. Esta área tem a função de assegurar o uso econômico sustentável  dos recursos naturais. Promove a conservação da biodiversidade, abriga e protege a fauna silvestre e a flora nativa. O tamanho da área varia de acordo com a região onde a propriedade está localizada. Na amazônia, é de 80% e, no cerrado localizado dentro da amazônia legal é de 35%. Nas demais regiões do país, a reserva legal é de 20%, como é o caso do nosso cerrado goiano.
Quando o código florestal foi criado em 1934, o proprietário não podia desmatar mais que 3/4 da vegetação da sua propriedade. Em 1965,  com a lei  federal 4.771, o "novo" Código Florestal estabelece 50% de reserva legal na amazônia e 20% no restante do país e define a localização das áreas de preservação permanente e os proprietários  que haviam desmatado a mais que o permitido, teria que fazer a recomposição. Em 1996, o então presidente Fernando Henrique Cardoso preocupado com o desmatamento alarmante principalmente na floresta amazônica, edita a medida provisória (MP) 1.511 que aumentou a reserva legal nas áreas de floresta de 50% para 80%, mas no cerrado dentro da amazônia legal, reduziu de 50% para 35% que é o que prevalece até o momento.

Qual a necessidade de mudanças no código florestal neste momento já que ele é tão antigo?

A razão principal da insatisfação é que, após muitas décadas de esquecimento, a lei começou a ser aplicada e teve como auxiliar a Lei de Crimes Ambientais (Lei  9.605/1998) que trouxe penas mais duras para quem desobedecesse a legislação ambiental. A fiscalização no campo  aumentou, o Ministério Público passou a agir com mais rigor em denúncias e a partir de 2008, um conjunto de medidas voltadas a fazer valer o código foi editado pelo governo, incluíndo a restrição de financiamento bancário para as propriedades irregulares. Em síntese, as mudanças propostas no código florestal têm por objetivo principal, tirar da ilegalidade em  torno de 90% dos proprietários  rurais deste país, que desmataram além da conta, não respeitaram as APPs e não têm reserva legal.
Os defensores da mudança que se dizem pertencentes a "bancada ruralista" apresentam três argumentos principais: o código florestal atrapalha o desenvolvimento da agropecuária brasileira que precisa de novas áreas para sua expansão, que não tem base científica a manutenção das florestas (APPs e a reserva legal ) e que é impraticável, prejudicando especialmente a agricutura familiar.
Muitos estudos publicados por instituições sólidas e de credibilidade (SBPC, USP, UNESP, UNICAMP, UFG) demonstraram que a área cultivada no Brasil pode ser dobrada se as áreas de baixa produtividade pecuária forem acrescentadas à produção agrícola. No cerrado brasileiro há milhões de hectares de pastagens degradadas que podem, mediante recuperação, ampliar em até dez vezes os atuais índices de produtividade, sem expansão de novas áreas e sem a necessidade do desmatamento de floresta. Quanto a base científica, não faltam estudos comprobatórios e conclusivos de que a ausência de APPs e reserva legal contribui para o decréscimo da biodiversidade, aumento da emissões atmosféricas, assoriamento dos rios, potencialização de enchentes, deslizamentos de encostas, todo tipo de desastres ambientais que levam a perdas irreparáveis. A Universidade Federal de Goiás (UFG) publicou em 2010, estudos que indicam que a faixa de 25 metros de mata ciliar não foi suficiente para reter sedimentos provenientes da área agrícola.

As mudanças


Em 24 de maio de 2011, a câmara federal aprovou mudanças que enviadas ao senado também foram aprovadas com emendas de última hora por 58 votos a 8 em 06 de dezembro de 2011. Embora melhor do que a aprovada pela Câmara dos Deputados, a proposta significa retrocesso na política de conservação ao premiar quem desmatou ilegalmente (observe a comparação das mudanças no Quadro 01).
O texto final excluiu algumas das propostas mais prejudiciais à conservação aprovadas pelos deputados, mas reduz áreas protegidas em propriedades rurais, mantém a anistia a quem desmatou ilegalmente e, por consequência, traz incentivos para novos desmatamentos.

Quadro 01
http://www.yikatuxingu.org.br/2011/12/12/com-%E2%80%9Cacordao%E2%80%9D-senado-aprova-mudanca-no-codigo-florestal/

E o futuro? O que podemos esperar?


As pesquisas são bases científicas que devem nortear essa questão. Esperamos que os deputados e  senadores tenham mais clareza em suas análises e assumam a função para a qual foram eleitos, que é a defesa dos interesses do cidadão brasileiro e esqueçam a causa própria. Nesse debate, não poderá existir nem "bancada ruralista" nem "bancada ambientalista". A bancada é uma só, a da sobrevivência da humanidade nesse planta da qual depende do recursos naturais, água em quantidade e qualidade, alimentos sem contaminação por agrotóxico, herbicidas entre outros, emprego e renda, qualidade de vida, e em especial, educação.
Os infratores da legislação ambiental precisam arcar com as consequencias de seus atos. Mudar as regras no meio do jogo é um estímulo a impunidade. É preciso combater essa ideia!




O Código Florestal está sendo modificado para satisfazer a bancada ruralista, abrindo brecha para mais desmatamentos.
A sua  aprovação final depende da presidente Dilma: peça a ela para cumprir suas promessas e vetar o projeto de lei que vai deixar nossas florestas sob a ameaça das motosserras.

http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Participe/Ciberativista/Codigo-Florestal-veta-Dilma1/

Leia também: http://www.agb.org.br/documentos/cartilhaCF20012011.pdf


Não deixe se influenciar pela mídia. 
Tire suas próprias conclusões sobre  tema tão polêmico.
Leve em consideração a posição da comunidade científica brasileira.

Confira o que pensa a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

http://www.sbpcnet.org.br/site/arquivos/codigo_florestal_e_a_ciencia.pdf

sábado, 17 de dezembro de 2011

E por falar em cerrado...


Eu sou o cerrado.

            Domino, abraço e protejo quase 2 milhões de Km2 do meu país, ou seja, 23% do território de minha pátria. Sou, assim, a Segunda maior formação vegetal da América do sul, depois do conjunto florestal amazônico.
            Algumas unidades de nossa federação dependem de mim para seu desenvolvimento ou mesmo sobrevivência. Em Goiás, cubro 88% de seu espaço geográfico; em Minas Gerais, 53%, no conjunto Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, 39%; no Maranhão, 30%. É, porém, no Distrito Federal que não permito concorrência – estou presente em 100% de seu território.
Concentro-me principalmente no Planalto Central do Brasil, onde o solo, o clima, as altitudes e o relevo favoráveis me permitiram permanecer, mas apareço sob a forma de manchas em quase todo o espaço tropical brasileiro.
            Sou acusado de monótono em minhas características. Árvores pequenas, que muito raramente chegam a 8 metros de alturas, folhas grandes e geralmente espessas, troncos e galhos tortuosos, cascas grossas e cortiças. Um tapete de gramíneas, de arbustos, e subarbustos, com uma certa descontinuidade, cobre e protege o meu chão.
            Minhas árvores são bastante afastadas uma das outras e suas copas quase nunca se tocam. Assim, abro-me para o céu, o sol beija minha terra e enxergo amplos horizontes.
Ali, minhas árvores são bem mais baixas, guardam maior distância entre si, as gramíneas são mais contínuas e os arbustos mais freqüentes – sou o cerrado ralo ou campo cerrado.
Além, sou dominado pelas gramíneas, arbustos e subarbustos, as árvores desaparecem – sou o campo sujo.
            Mais à frente, as gramíneas imperam de maneira quase absoluta, formando os meus campos limpos.
Em meu domínio aparece também o cerradão, que é uma das mais belas florestas do Brasil, com árvores que chegam a 18 metros de altura, muitas das quais comuns às minhas formações típicas, mas com troncos retilíneos e cascas um pouco mais delgadas.
Os estratos herbáceos, arbustivos e arbóreos são bem mais distintos; o chão é sombreado, o que faz rarear as gramíneas.
            A vereda, com toda razão muito vaidosa, já está pensando que dela vou me esquecer. Não poderia deixar de me lembrar da mãe de minhas águas, do mais belo espetáculo cênico do mundo tropical. É o meu oásis, só que de maior beleza que o saariano.
            Observem-me mais atentamente e verão que exibo, durante todo o ano, as mais belas flores do Brasil, flores para enfeitar a minha vida e a de quem ama o belo.
            Minha idade? Está guardada somente na memória dos tempos. Sou uma das mais antigas formações vegetais do Brasil. Vi nascer a luxuriante floresta amazônica, pois lá estava quando ela chegou. Um clima cada vez mais úmido fez com que eu lhe cedesse lugar, recuando às minhas antigas fronteiras, no Planalto Central, deixando ali apenas alguns núcleos, testemunhos do meu antigo império.
            Passei por vários climas, solos os mais variados, adaptei-me a múltiplos ambientes, através de uma constante seleção de minhas espécies e reações fisiológicas verdadeiramente milagrosas.
            Vi os primeiros homens chegarem, vindos de outros continentes. Ofereci-lhes abrigo, frutos, caça fácil e as penas de meus pássaros lhe serviram de ornamento.
            Acolhi em meu vasto coração os homens ditos civilizados. Não fui egoísta. Ofereci alimentos para os seus rebanhos e para eles próprios, dei-lhes madeira para os seus currais e cercas, folhas e embira de buriti para a construção de suas casas, lenha para seus fogões e rios que lhes conduziam ao Atlântico.
            Com os chamados civilizados veio o fogo induzido e sistemático, o que me obrigou a novas adaptações, quando então muitas de minhas espécies desapareceram, mas, com grande esforço, não perdi a minha identidade.
            Resisti galhardamente à “Maria-Fumaça”, aos vapores do rio São Francisco, aos fogões caseiros, sempre sedentos de lenha. Mas foi a partir de meados deste século que meu mundo começou a se desmoronar. Vieram as usinas siderúrgicas que tinham como base energética o carvão vegetal. Minhas árvores começaram a ser dizimadas, assassinadas numa extensão e rapidez nunca vista, através de uma verdadeira política de terra arrasada. Meus animais praticamente desapareceram, pois ficaram sem alimento, sem abrigo e sem refúgios, bem à vista de caçadores impiedosos.
            As grandes estradas começaram a aparecer. Com elas vieram as famosas caixas de empréstimos, o decapeamento de meus morros para encascalhamento de seus pisos; os cortes das ondulações de meu terreno, sem sustentação dos taludes; os barramentos e a morte das veredas pelos aterros, tudo isto contribuindo fortemente para o arruinamento de meus solos e de meus rios.
            O pior ainda estava por chegar; a implantação de florestas homogêneas em grandes áreas do meu domínio. Também desta vez nada foi respeitado. Topos de chapadas e de morros, vertentes, veredas, fontes; tudo foi tomado de assalto. A erosão aumentou, pois só as gramíneas tinham capacidade de segurar o meu solo, sempre mais arenoso do que argiloso. Minha fauna foi mais uma vez sacrificada e as veredas perderam sua função ecológica de genitora das águas e de paraíso dos animais.
            Mas outra calamidade veio chegando rápida e em grande extensão: a lavoura comercial monocultora. Esta, ao invés de adaptar-se a meus solos, adaptou meus solos aos produtos de sua conveniência. Adubos químicos e orgânicos, calagem, inseticidas, herbicidas, fungicidas, tudo contrariando minha natureza, pois nada teve o controle devido. As lâminas de tratores gigantes rasgaram fundo minha alma; arrancaram pelas raízes os meus viventes vegetais; desestruturaram o meu solo, sem qualquer consideração por meus princípios de vida. Com a utilização de meu terreno para outros fins, o superpastoreiro passou a ser uma prática nefasta, especialmente nas superfícies de solos mais instáveis. Como resposta a tudo isto, a desertificação, em alguns de meus endereços, tem sido a terrível realidade.
            Não posso terminar a minha fala, sem dizer aos homens que sou o pai das águas do Brasil, a grande caixa d’água nacional. Abram qualquer mapa hidrográfico de meu país. Observem e verão que de minhas entranhas saem quase todos os afluentes da margem direita do Amazonas, o Araguaia e o Tocantins; o São Francisco e seus principais afluentes; a maioria dos tributários do Paraguai e ele próprio, ocorrendo o mesmo com o Rio Paraná, o Paraguaçu e muitos outros rios das bacias nordestinas.        Não é necessário que eu ensine aos humanos que, ao desequilibrar-se a cabeceira de um rio, desequilibrar-se todo o seu curso; ao desequilibrar-lhe o curso, desequilibrar-se toda a bacia hidrográfica.
            Senhores racionais, senhores donos do mundo, não sou contra a minha utilização para a satisfação de suas necessidades. Creio que, ao longo de minha história, provei isto de maneira inquestionável. Ao contrário, quero continuar sendo generoso. Para isto, aqui vai o meu grande apelo; um apelo quase desesperado: ESTUDEM-ME, CONHEÇAM-ME, RESPEITEM-ME. Façam um zoneamento ambiental de meu espaço, deixem lugar para meus animais, separem bancos genéticos de minhas espécies, protejam minhas áreas críticas; preservem amostragens de meus ecossistemas, cuidem bem de minhas coleções de água, especialmente de minhas veredas; resgatem os meus 500 anos de cultura que surgiu de nossa conveniência e que formou uma verdadeira civilização. Enfim, AMEM-ME e eu prometo ser-lhes dadivoso de agora até a eternidade.
                                                                                                                 Ivo das Chagas

Nota sobre o autor: 


Nascido em 1933, no município de São Romão (Norte de Minas), o professor Ivo das Chagas era graduado em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pós-graduação em Geografia e Ecologia Vegetal pela Universidade de Bordeaux (França).

Em 2006, foi homenageado como Professor Emérito da Universidade. Em 2011, foi homenageado como Patrono Geral de todos os cursos de graduação da Unimontes. Ivo das Chagas foi coordenador do programa de Educação Ambiental da Secretaria Especial do Meio Ambiente do Ministério do Interior (1982), membro do Conselho Consultivo Interministerial de Ciência e Tecnologia do Grande Carajás (1982), secretário-adjunto de Ecossistema, da Secretaria Especial de Meio Ambiente do Ministério do Interior (1983/1984) e conselheiro da Câmara de Bacias Hidrográficas do Conselho Estadual de Política Ambiental – Copam (1988/1989).

Foi integrante do Instituto Histórico e Geográfico (IHG) de Montes Claros. Em 2011, ele recebeu a Medalha da Inconfidência, do Governo do Estado. Professor emérito da Unimontes, Ivo das Chagas, foi reconhecido como um dos maiores estudiosos sobre Cerrado no Brasil e a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, com trabalhos de referência mundial sobre a geografia tropical, ecologia vegetal, cartografia e organização do espaço. Na Universidade, atuou como docente da então Fundação Norte Mineira de Ensino Superior (FUNM), posteriormente no Departamento de Geociências, foi pró-reitor de Pesquisa e coordenador do campus de Pirapora. Teve atuação destacada também em órgãos e cargos públicos dos governos federal e estadual.

Faleceu em 16/03/2018, aos 85 anos, em Montes Claros, Minas Gerais.


http://www.scielo.br/img/revistas/bn/v8n3/a19fig02.jpg
verdecapital.wordpress.com
mmaximo.musicblog.com.br

Ipê: as lindas flores do cerrado.


Quem passa por nossa região, ou quem por aqui vive, não pode deixar de notar a grande ocorrência de uma árvore de pequeno porte com lindas flores amarelas. Trata-se da Tabebuia caraiba (Mart.) Bur ou simplesmente caraíba ou caroba-do-campo, ou ainda ipê-amarelo-do-cerrado. Com um tronco tortuoso revestido por grossa cascaresistete ao fogo (fato natural no cerrado), o ipê amarelo pode chegar até 40 cm de diâmetro e em torno de 12 a 20 metros de altura. Ocorre na Amazônia, Nordeste, São Paulo e no Brasil Central (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul). Ele apresenta uma diversidade na forma, ecologia e fisiologia. Apesar de especialistas enquadrar os exemplares do cerrado em outra espécies diferente, nós encontramos explicações para isto. É que nos cerrados de solo pobre, o ipê é uma árvore de menor porte (4 a 6 metros) e apresenta o tronco ainda mais tortuoso. O ipê - amarelo pode ser perenifólia, ou seja, não perde as folhas, ou semidescíduas, que perde parte das folhas, sendo o ipê do cerrado totalmente descídua, isto é, perde completamente as folhas no período de seca. Este assume também características xeromorfas nem sempre verdadeiras por ter mais relação com o solo do que com a quantidade de água disponível. O ipê-amarelo floresce de agosto a setembro, frutificando geralmente em meados de outubro. As sementes devem ser colhidas e secas ao sol. A germinação se dá em torno de 50% com um desenvolvimento lento. A madeira do ipê é flexível, dura, moderadamente pesada e de baixa resistência ao apodrecimento. Ela pode ser utilizada em cabos de ferramentas, peças curvadas, réguas flexíveis, artigos esportivos, móveis, esquadrias e na construção civil. A árvore em si é extremamente ornamental, mas o seu potencial paisagístico não é muito explorado nem mesmo na arborização urbana. Os pés de ipês podem ser utilizados em reflorestametos e recomposição de áreas degradadas. Apesar da beleza, da grande utilidade e do mist´rio da vida que envolve o bioma cerrado, corre-se o risco de destruí-lo sem conhecer exaustivamente os seus potenciais.

Referência
LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992, 382p.
Tabebuia caraiba  (mgonlinestore.com)
 Tabebuia caraiba ( timblindim.wordpress.com)
Tabebuia chrysotricha (jardinsdepetropolis.com.br)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Buritizal: paisagem de rara beleza.

Em Portugal palavra "vereda" significa caminho, mas não no Brasil que é usada para toda vegetação de vale: o brejo estacional, o brejo permanente e a faixa de buritis. O principal personagem dessa paisagem de rara beleza é o buriti, conhecido também como coqueiro-buriti, boriti ou palmeira-dos-brejos. Faz parte da família Arecaceae e apresenta sinonímias botânicas como Mauritia vinifera Mart., Mauritia setigera Griseb ou Mauritia flexuosa L.f.
Os buritizais ou veredas de buritis são comuns e notáveis praticamente em todo território brasileiro, principalmente ao longo dos fundos de vales no Brasil central. Ao invés de mata ciliar ou galeria, ocorre uma faixa de buriti acompanhada de um solo permanentemente brejoso, a qual sob a encosta do vale, transformando o cerrado em campo graminoso úmido estacional. Essas mudanças podem ser vistas brusca ou gradualmente, sendo que podem ocorrer camadas arbustivas debaixo dos buritis. 
O buriti é uma planta arbórea, perenifolia (folhas perenes), heliófita (vivem em qualquer condição do sol), higrófila (adaptada as regiões alagadas), caule com estipe, nós e entrenós bem evidentes e folhas na região capital. O buriti atinge alturas entre 20 a 30 metros, com uma espessura de até  50 centímetros de diâmetro e contém de 20 a 30 folhas com até 5 metros de comprimento e 3 metros de largura. A madeira é empregada em construções rurais, bicas d'agua e artesanato. As folhas cobrem "ranchos" e fornecem "imbira", que pela resistência de suas fibras, substituem cordas e barbantes na zona rural. Alguns estados como o Maranhão, já produzem em pequena escala, tecidos de fibra. O corte da inflorescência antes das flores desabrocharem, fornece um líquido adocicado que, quando fermentado, transforma-se em "vinho de buriti", o qual pode ser também preparado com a polpa, que produz ainda óleo comestível consumido pela população local. 
Esta planta é muito ornamental, podendo ser utilizada na arborização de praças e parques com sucesso. Floresce quase todo ano, com maior intensidade de dezembro à abril, produzindo grande quantidade de frutos que são consumidos por inúmeros animais, dentre eles roedores e aves. Abriga na bainha de suas folhas, ninhos de pássaros e répteis, como cobras. Quando o buriti morre, o seu tronco em decomposição é facilmente perfurado, sendo preferido pelas araras e periquitos para constrição de seus ninhos. A coleta da semente deve-se iniciar com a queda espontânea, sem necessidade da despolpa, salvo para o armazenamento. O ideal é plantar logo após a coleta, sendo que a semente apreseta uma taxa de germinação moderada, e a emergência se dará de 3-5 meses, um desenvolvimento lento tanto em viveiros como no campo. 
Além da rara beleza, o buriti é peça fundamental para a ecologia do cerrado, auxiliando a perpetuação de espécies animais, protegendo as nascentes, mantendo o equilíbrio do meio ambiente e oferecendo alternativas de subsistência através da exploração racional para a população da região.

Vereda de buriti
Inflorescência
Fruto do buriti
Bolsa feita com fibras de buriti.
 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Por que a Família Asteraceae?

A Família Asteraceae, também conhecida como Compositae, é, reconhecidamente, a maior família do reino vegetal, compreendendo 1.535 gêneros e cerca de 23.000 espécies (Bremer, 1994; Judd et al., 1999). 
De ampla distribuição em regiões temperadas, tropicais e subtropicais, a famíla Asteraceae, teve sucesso em todos os tipos de habitats considerando as altitudes, sendo ainda mais abundantes em ambientes áridos do que em florestas tropicais (Barroso et al., 1991). 
As Asteraceae apresentam grande plasticidade evidenciada pela ocupação de diferentes nichos ecológicos, o que leva ao surgimento de padrões anatômicos muito variados, não raro adaptações a condições muito particulares, o que reflete na anatomia dos órgãos vegetativos (Cronquist, 1981). Podem ser encontradas como ervas, arbustos, menos comuns as lianas, raramente árvores, às vezes plantas latescentes e resiníferas.
As folhas são simples, alternas, opostas ou verticiladas, inteiras, dentadas ou lobadas a cortadas de forma variada (Cronquist, 1968), freqüentemente conduplicada ou revoluta (Judd et al., 1999). Metcalfe & Chalk (1950) relataram a grande variabilidade anatômica e morfológica das Asteraceae, destacando a constância de caracteres como canais secretores, caules herbáceos com feixes colaterais acompanhados por fibras, presença de estômatos anomocíticos, ocorrência de crescimento secundário não usual em espécies lenhosas e o aparecimento de uma endoderme ao redor do sistema vascular, sendo que no caule geralmente apresentam além de grãos de amido, estrias de Caspary.
Estudos sobre a anatomia foliar em Asteraceae têm servido como base para morfogênese, fisiologia ecológica e evolução. 
O sucesso adaptativo das Asteraceae, refletido no elevado número de espécies e ampla distribuição geográfica, foi sugerido devido a presença de estruturas secretoras especiais como os canais resiníferos contendo poliacetileno e lactonas sesquiterpênicas, e os laticíferos contendo alcalóides, óleos essenciais e lactonas sesquiterpênicas. Estes compostos são responsáveis pela defesa química da planta (Ehleringer et al., 1976; Cronquist, 1981; Wagner, 1991; Roshchina & Roshchina, 1993).
http://www.botany.wisc.edu/garden/UW-Botanical_Garden/Asteraceae.html

Estão em todos os tipos de solos mesmo em afloramento rochoso, onde os solos são rasos, pouco desenvolvidos e carentes em nutrientes, exibindo, em geral, adaptações à falta de água, devido a intensa exposição à radiação solar, pouca profundidade e alta permeabilidade dos solos e a ação dos ventos, fatores que levam o ambiente a uma extrema deficiência hídrica.

São sobreviventes! 
E é assim que temos que ser, como as asteráceas!!!!
 
BARROSO, G. M; PEIXOTO, A. L.; ICHASO, C. L. F.; GUIMARÃES, E. F. &
COSTA, C. G. (1991). Sistemática das Angiospermas do Brasil. Vol. 3, 1ª ed.,
Viçosa: Editora UFV, 326p.
BREMER, K. (1994). Asteraceae-Cladistics & Classification. Oregon: Timber Press,
752 p.
CRONQUIST, A . (1981). An integrated system of classification of flowering plants.
New York: Columbia University Press. 1262p.
JUDD, W.S.; CAMPBELL, C.S.; KELLOGG, E.A. & STEVENS, P.F. (1999). Plant
Systematics: a phylogenetic approach. Sunderland - Massachusetts: Sinauer
ASSOCIATES, 464p.
METCALFE, C.F. & CHALK, L. (1950). Anatomy of the dicotyledons: leaves, stem
and wood in relation to taxonomy with notes on economic uses. 2v.,
Oxford:Clarendon Press. 724p.
EHLERINGER, J. R., BOJRKMAM, O. E. & MONNEY, H. A. (1976). Leaf
pubescence: effects on absorptance and photosyntesis in a desert shurb. Science 192:
376-377.
ROSCHINA, V. V. & ROSCHINA, V. D. (1993). The excretory function of higher
plants. Berlin: Springer- Verlag, 314p.
WAGNER, G. J. (1991). Secreting glandular trichomes: more than just hairs. Plant
Physiol. 96: 675-679.


Achyrocline satureoides
(Lam.) DC.




Verbesina glabrata Hook &
Arn.
Vernonia decumbens
Gardner
Baccharis platypoda DC.