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"Este cerrado é um pouco como o nosso povo brasileiro. Frágil e forte. As árvores tortas, às vezes raquíticas, guardam fortalezas desconhecidas. Suas raízes vão procurar nas profundezas do solo a sua sobrevivência, resistindo ao fogo, à seca e ao próprio homem. E ainda, como nosso povo, encontra forças para seguir em frente apesar de tudo e até por causa de tudo"

Newton de Castro


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Caracterização morfo-anatômica da lâmina foliar de Eryngium foetidum L.

Kátya Bonfim Ataides Smiljanic  <katia@fimes.edu.br>
Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES)
Rua 22, s/nº - Setor Aeroporto – Cx. P. 104 – Mineiros/GO – CEP 75830-000


RESUMO: Este trabalho teve por objetivo descrever a morfoanatomia da lâmina foliar de E. foetidium como contribuição para a taxonomia e sistemática da família Apiaceae. O material botânico foi coletado em horta na Fazenda Experimental Luiz Eduardo Oliveira Sales - FELEOS em Mineiros – GO, fixado em F.A.A. (50%), estocado em etanol (70%). Os cortes transversais e paradérmicos foram feitos com lâmina de aço, imersos em uma solução de Hipoclorito de Sódio, lavados em álcool e água destilada e corados com Azul de Astra (1%) e Safranina (1%), e em seguida comporam lâminas semi-permanentes. A lâmina foliar de E. foetidium é isobilateral e anfiestomática com epiderme unisseriada, cutícula espessa, estômatos diacíticos ou anisocíticos, cristais do tipo drusas, calotas de fibras abaixo das epidermes (adaxial e abaxial) associadas a duas ou três camadas de colênquima angular. Os feixes vasculares são colaterais, com presença de ductos secretores esquisógenos. A planta apresentou caracteres xerófitos e exala aroma característico por produzir e armazenar substâncias químicas, nos ductos secretores presentes nas folhas.
PALAVRAS-CHAVE: Anatomia vegetal. Botânica ecológica. Botânica estrutural, Apiaceae

INTRODUÇÃO
         
A família Apiaceae é composta por aproximadamente 480 gêneros e 2600 espécies (CONSTANCE, 1988) distribuídas praticamente em todo o mundo, sendo conhecida por apresentar alguns óleos essenciais (DETHIER, 1941) na folha como limoneno e linalol (HADARUGA et al., 2005); monoterpenos e cumarinas (RIBEIRO e KAPLAN, 2002; RAZAVI et al., 2008) e cumarinas (RIBEIRO e KAPLAN, 2002).
A espécie Eryngium foetidum conhecida popularmente como chicória-do-pará pertence à ordem Apiales, família Apiaceae, gênero Eryngium com aproximadamente 205 espécies conhecidas por seus potenciais efeitos em alvos do sistema nervoso central (BITENCOURT e HENRIQUES, 2013).
Apresenta folhas glabras, lanceolado-espatuladas ou oblongo-lanceoladas de 5 a 18 cm de comprimento, com 1,5 a 5 cm de largura, serrado-epinescente, dispostas em roseta formando uma pequena touceira.  
Na fase reprodutiva, há emissão de uma haste floral disposta em pequenos e densos capítulos sésseis, cilíndricos ou ovóides, longo-pedunculadas com grande produção de sementes férteis. A planta é utilizada para dar aroma único e sabor característico (muito semelhante ao coentro) aos pratos em que está incorporado o que vem despertando interesse no seu plantio e comercialização (BRASIL, 2010).
Este trabalho teve por objetivo descrever a morfoanatomia da lâmina foliar de E. foetidum como contribuição para a taxonomia e sistemática da família Apiaceae.


MATERIAL E MÉTODOS

O material botânico foi coletado em horta na Fazenda Experimental Luiz Eduardo Oliveira Sales - FELEOS em Mineiros - GO. Para caracterização anatômica, folhas totalmente expandidas foram colhidas aleatoriamente e em seguida, fixadas em F.A.A. (50%) e posteriormente estocadas em etanol (70%) (JOHANSEN, 1940). A folha foi cortada transversalmente por meio de uma lâmina de aço na porção mediana, borda da lâmina foliar e pecíolo para análise estrutural dos tecidos e cortes paradérmicos foram feitos para visualização dos estômatos, tricomas e outras estruturas epidérmicas. Cada corte foi imerso em uma solução de Hipoclorito de Sódio comercial até a sua total descoloração, sendo imediatamente lavados em álcool e água destilada. Por fim, as secções passaram por uma seqüência de corantes, Azul de Astra (1%) e Safranina (1%), (JOHANSEN, 1940) e a partir de então, vieram a compor lâminas semi-permanentes. As observações e documentações fotográficas foram feitas em um microscópio fotônico do Laboratório de Microscopia do Centro Universitário de Mineiros - UNIFIMES. Os resultados encontrados, meramente descritivos, foram discutidos e comparados à estudos similares feitos com plantas afins.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

E. foetidum é uma planta herbácea, perene, rasteira, com folhas simples, lineares, glabras com nervuras paralelas e divergentes, carnosas, margem inteira e aculeada com filotaxia rosulada. As flores são sésseis, actinomorfas, com cálice persistente e sépalas conspícuas com inflorescências dispostas em capítulos.
A lâmina foliar é isobilateral e anfiestomática. A epiderme apresenta-se unisseriada, com paredes anticlinais sinuosas, tanto na face adaxial quanto abaxial. A cutícula é espessa e os estômatos são diacíticos e ou anisocíticos e em mesmo nível das outras células epidérmicas. Não foi visualizado nenhum tipo de tricoma.
O mesofilo apresenta duas camadas de parênquima paliçádico e cerca de seis camadas de parênquima esponjoso, ambos repletos de grãos de amido e idioblastos com drusas de oxalato de cálcio.      Na região mediana da folha foram visualizados três feixes vasculares voltados para face abaxial e um menor para a face adaxial. Os feixes vasculares são colaterais, envolvido por bainha parenquimática, e associados a ductos secretores delimitados por única camada de células, voltados para o floema. A margem é constituída por células lignificadas.
Os ductos ou canais secretores presentes foram identificados como do tipo esquisógeno, resultado da separação de células e com espaço interno delimitado por células intactas onde materiais como gomas ou resinas são acumulados (ESAU, 1976).
Calotas de fibras foram observadas abaixo da epiderme tanto na face abaxial quanto adaxial e nas extremidades da lâmina foliar.
A nervura central apresenta fibras voltadas para o xilema e entre duas a três camadas de colênquima angular na face adaxial e entre uma a duas na abaxial abaixo das epidermes.
As fibras são células de esclerênquima de alta resistência com paredes secundárias mais ou menos espessas, com depósitos de lignina que geralmente ocorrem em feixes e possuem a função de sustentação nas plantas adultas (ESAU, 1976; CUTTER, 1986).
A presença de cutícula espessa, muitos elementos mecânicos como as fibras e mesofilo isobilateral são características de plantas adaptadas ao ambiente com restrição de água e muita luminosidade sendo denominadas de xerófitas (APPEZZATO e CARMELO, 2003).

CONCLUSÃO 

A folha é isobilateral, anfiestomática com epiderme unisseriada, cutícula espessa, estômatos diacíticos ou anisocíticos, cristais do tipo drusas, calotas de fibras abaixo das epidermes associadas a duas ou três camadas de colênquima angular. Os feixes vasculares são colaterais, com presença de ductos secretores esquisógenos. A planta apresentou caracteres xerófitos e exala aroma característico por produzir e armazenar substâncias químicas, nos ductos secretores presentes nas folhas.

 Figura 1. E. foetidum.

 Figura 2. Idioblastos contendo drusas.

 Figura 3. Corte paradermico da lâmina foliar evidenciando estômatos.

 Figura 4. Corte transversal mostrando epiderme espessa.

  Figura 5. Mesofilo isobilateral.

 Figura 6. Feixe vascular e cavidade secretora.


REFERÊNCIAS

APPEZZATO-DA-GLÓRIA, B.; CARMELLO-GUERREIRO, S. M. Anatomia Vegetal. Viçosa: UFV, 2003. 438.
BITENCOURT, F. G.; HENRIQUES, A.T. Estudo Químico de Óleos Essenciais Obtidos de Espécies do Gênero Eryngium (APIACEAE) e seu Potencial Inibitório sobre a Enzima Monoamina Oxidase. Salão de Iniciação Científica (25: 2013 out. 21-25: UFRGS, Porto Alegre, RS). Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/92190 acessado em 19 de setembro de 2014.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual de hortaliças não-convencionais / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. – Brasília: Mapa/ACS, 2010. 92 p.
CONSTANCE, L.. Umbelliferae. En: M. N. Correa (Dir.), Fl. Patagónica 8 (5): 310-379, 1988.
CUTTER, E. Anatomia vegetal: Parte I - Células e tecidos. 2º ed. São Paulo: Roca, 1986.
DETHIER, V.G. Chemical factors determing the choice of food plants by Papilo larvae. Am Nat 75: 61-73, 1941.
ESAU, K. Anatomia das plantas com sementes. Tradução por Berta L. Morretes. São Paulo: Edgard Blücher, Editora da USP, 1976. 293p.
HADARUGA N.G; HADARUGA D.I; LUPEA A.X, PAUNESCU V.; TATU C. Bioactive nanoparticles - 7. Essential oil from Apiaceae and Pinaceae family plants/beta-cyclodextrin supramolecular system. Rev Chimie 56: 876-882, 2005.
JOHANSEN, D. A.  Plant microtechnique. New York: Mc Graw-Hill BookCo.Inc., 1940. 523p.
RAZAVI S.M; NAZEMIYEH, H.; HAJIBOLAND, R.; KUMARASAMY, Y.; DELAZAR, A.; NAHAR, L.; SARKER, S.D. Coumarins from the aerial parts of Prangos uloptera (Apiaceae). Rev Bras Farmacogn 18: 1-5, 2008.

RIBEIRO, C.V.C.; KAPLAN, M.AC. Tendências evolutivas de famílias produtoras de cumarinas em angiospermae. Quim Nova 25: 533-538, 2002.

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